Amar também é aprender a lidar com o medo de perder.
Muita gente acredita que o amor deveria eliminar o medo, quando na verdade ele o revela. Quanto mais importante o vínculo, mais ele desperta as nossas defesas. É natural: o amor toca o que é mais vulnerável em nós.
O risco começa quando, em vez de reconhecer o medo, tentamos controlá-lo. E esse controle costuma aparecer como cobrança, ciúme, vigilância ou tentativa de prever o comportamento do outro.
O ponto central não é “confiar mais”, mas suportar a própria ansiedade sem agir sob ela.
Em terapia, trabalhamos justamente esse espaço entre o sentir e o agir. Aprender a reconhecer o medo sem transformá-lo imediatamente em comportamento. Entender que o desconforto não exige resposta imediata.
É nesse intervalo que a relação respira.
A confiança, ao contrário do que se imagina, não é ausência de insegurança, é a capacidade de sustentar o vínculo apesar dela.
Ela não se constrói em discursos, mas na repetição de pequenas experiências em que o outro se mostra disponível, coerente, previsível o bastante. E isso leva tempo. A pressa por “certezas” costuma fragilizar o que poderia amadurecer.
Há algo de saudável em admitir que não controlamos o outro. É o que nos devolve à realidade de que amar é sempre correr um pequeno risco e que segurança total seria o mesmo que anestesia. Quem busca eliminar toda insegurança, elimina também a vitalidade da relação.
Amar é um exercício de presença, não de posse. É permitir que o outro exista fora de nós, sem que isso ameace o que existe entre nós.
É reconhecer que, mesmo no amor, há fronteiras. E que respeitá-las é o que mantém o vínculo vivo.