Quando a régua usada com você é mais dura que a usada com os outros. O que isso indica e como tratar.
Há pessoas que tratam os outros com gentileza, mas falam consigo mesmas como se estivessem diante de um inimigo. são compreensivas, empáticas, disponíveis... Até que o assunto seja elas mesmas.
Na clínica, esse padrão aparece como régua dupla: uma medida humana para os outros, e uma medida desumana para si.
Não se trata de “falta de amor-próprio”. O que geralmente está por trás disso é uma aprendizagem precoce: a ideia de que ser aceito depende de desempenho. Essa lógica faz com que cada erro soe como ameaça. E o erro passa a ser temido, não integrado.
Com o tempo, a autocrítica vira um tipo de alerta interno, uma tentativa de manter o controle e evitar rejeição.
Essa rigidez costuma gerar ansiedade, dificuldade de descansar e incapacidade de reconhecer o suficiente.
Há sempre algo a melhorar, algo a corrigir, algo a “merecer”.
O problema é que viver sob essa dinâmica produz exaustão e distanciamento do prazer. O que era busca por evolução vira perseguição interna.
O processo terapêutico, nesse caso, não tem como foco “parar de se cobrar”. Isso seria apenas outro tipo de exigência.
A proposta é entender quem fala dentro de você quando essa voz se ativa, em que contextos ela surge e o que tenta garantir.
Em muitos casos, essa autocrítica foi necessária em algum momento da história, ajudou a sobreviver, a se proteger, a conquistar espaço. O problema é quando ela segue atuando mesmo sem mais necessidade.
Ao compreender sua função, é possível substituí-la por um critério mais justo: avaliar, não punir. corrigir, sem humilhar. Reconhecer o suficiente, não apenas o falho.
Essa transição é gradual, e tem efeitos concretos: melhora o sono, a concentração, a relação com o corpo, a paciência consigo.
Ninguém se torna leve porque decidiu “pegar mais leve”.
A leveza é consequência de uma escuta que entende o porquê da rigidez e não a condena por existir.
A régua não precisa ser descartada, precisa ser humana.