Não é ‘eu ou o outro’. Como construir prioridade pessoal com responsabilidade relacional.
Muita gente chega à terapia com a sensação de que, se cuidar de si, estará sendo egoísta. é um dilema recorrente, especialmente entre pessoas acostumadas a se responsabilizar pelos outros. O pensamento é: ou eu cuido de mim, ou cuido de quem amo.
Mas esse “ou” é falso. É possível se preservar sem abandonar o vínculo.
O que sustenta esse dilema é uma crença aprendida cedo: a de que o amor precisa de renúncia para ser legítimo.
Quem cresceu em contextos em que o afeto vinha junto de exigência: agradar, servir, calar, costuma confundir proximidade com sobrecarga. A pessoa acredita que, para ser amada, precisa estar sempre disponível, sempre compreensiva, sempre de portas abertas.
Com o tempo, o que era afeto vira dever. E o cuidado vira dívida.
No fundo, o medo é o de perder o lugar no vínculo. “Se eu disser não, serei deixado.”
Essa fantasia é poderosa e silenciosa. Faz com que muita gente diga “sim” quando quer dizer “não”, e siga tentando manter o outro confortável às custas do próprio esgotamento.
É uma forma de lealdade inconsciente: melhor me cansar do que correr o risco de ser rejeitado.
A terapia ajuda a desmontar esse mecanismo. O objetivo não é endurecer, mas introduzir clareza onde antes havia culpa. Quando alguém começa a perceber que pode se posicionar sem romper o vínculo, algo se reorganiza.
Aos poucos, a pessoa aprende que o limite não afasta, ele define a distância saudável entre dois mundos que se tocam sem se confundir.
Priorizar-se não é o oposto de amar. É o que torna o amor possível.
Quando o cuidado com o outro ignora o próprio corpo, o vínculo deixa de ser encontro e passa a ser fusão e toda fusão, mais cedo ou mais tarde, sufoca.
O equilíbrio aparece quando o “não” dito com respeito preserva o “sim” que continua verdadeiro.
Num relacionamento maduro, as partes reconhecem o espaço que existe entre elas. Esse espaço não é ausência; é o território onde o respeito cresce.