Quando dizer ‘sim’ a tudo vira adoecimento. Por que descanso é limite clínico e como sustentá-lo.
Em consultório, é comum ouvir pessoas dizerem que só descansam quando “dá”, quando terminam tudo, quando o corpo já não responde. é como se o descanso fosse algo que se conquista e não algo que se precisa.
Mas o descanso não é um prêmio por produtividade. É um limite fisiológico, psíquico e simbólico. Quando ele é negado, o corpo começa a cobrar, e cedo ou tarde a fatura chega.
Há um tipo de cansaço que não melhora com férias. é o cansaço de quem sustenta o mundo inteiro sozinha. Gente que se define por estar sempre disponível, por resolver, por antecipar necessidades. que sente culpa ao parar, porque aprendeu que o valor vem do fazer e não do ser.
Essas pessoas não descansam porque acreditam que o descanso precisa ser “merecido”. E é aí que começa o adoecimento.
Descansar não é o oposto de ser produtivo. É o que torna a produtividade possível. Sem pausa, não há pensamento. Sem pausa, a emoção não se reorganiza. O corpo segue no automático, e o sujeito desaparece.
Quem vive em alerta constante perde a noção de escolha: responde, ajuda, faz, apaga incêndios, mas raramente escolhe o que quer ou precisa.
Em muitos casos, o excesso de responsabilidade esconde uma dificuldade de confiar.
“Se eu não fizer, ninguém faz direito.”
Essa frase parece eficiência, mas carrega medo. Medo de perder o controle, de ser substituído, de não ser necessário. O controle se disfarça de comprometimento, mas é só mais uma forma de tentar garantir segurança.
No trabalho terapêutico, o descanso se torna tema sério. Não é “tirar um tempo pra si”: É aprender a parar antes que o corpo pare à força. É reconhecer o direito de não estar disponível, de não responder imediatamente, de não salvar ninguém.
É suportar a culpa inicial que aparece quando se diz “não hoje”. E observar que o mundo não desmorona.
O descanso é a fronteira que preserva o que é humano.
Quem não reconhece o próprio limite, cede espaço para a exaustão decidir por ele.
Entender isso não é luxo, é maturidade.
Não é egoísmo, é critério.
É o que separa o cuidado do colapso.